sexta-feira, 24 de junho de 2011

Valeu a Pena?

Por Hermes Ribeiro

Hoje o Ribierão em Cena recebeu visita de um homem que viajava pela cidade.
Seu Ari e a esposa quiseram saber sobre os trabalhos da ONG e matar a curiosidade do que acontecia no espaço.
Então ele revelou, ao saber das apresentações de “Mulheres Vermelhas”, que teria sido eletrocutado por 3 dias consecutivos no DOI-CODI, em São Paulo. Era informante, “pombo-correio”.
Disse que, quando ouve alguém dizer, hoje em dia, sobre manifestações, movimentos, etc. costuma discordar: “Você não sabe o que está falando!”.
De fato, a idade dele já se mostrava muito influente no seu estilo de viver: muito falante, não economizava palavras nem cortejos (“bom dia”, “é um prazer conhecê-lo” e outras formalidades do tipo). Usou trocadilhos como, por exemplo, este que deve ser transcrito: Eu me lembro que aqui (No Ribcena) tinha um quadro do Che (Guevara). É impossível chegar nessa idade que eu estou sem se apaixonar por uma frase que ele disse: “Hay que endurecer”!
O homem se referia, muito mais, ao apelo do macho para com sua genitália, ao invés do revolucionário com sua realidade. O que, então, consagrou-o como gozador autor de trocadilhos sexuais baratos. E, como se podia esperar, ainda emendou alguns comentários sobre medicamentos contra impotência sexual.
Porém, distante da brincadeira com a realidade, ele retomou um questionamento que me deixou triste, pessimista inclusive.
Lembrando-se do sangue derramado pelos estudantes, operários e todos que protestavam contra as ditaduras, aquele senhor compartilhou uma dúvida sobre a luta: “Valeu a pena?”
Isto é, a democracia, instaurada após tanto tempo de censura e repressão, como está hoje, serve aos ideais políticos dos jovens sonhadores há trinta, quarenta anos?
Muito indica que não; que barbaridades cometidas por parlamentares, executivos e judiciários do alto escalão são índices de desamparo do povo brasileiro.
A própria localização de Brasília e o espaço onde fica o Parlamento já não favorecem a comunicação entre capital administrativa e o povo, que é, digamos, administrado. Conhecida a mentalidade que alguns têm quanto a ficar sem punição pelos crimes que cometem, principalmente de corrupção, lavagem de dinheiro e uso indevido de bem público, de onde vêm esperanças para se acreditar em um futuro feliz, ou, melhor, na felicidade que se terá no futuro?
Se mesmo instituições sagradas, como, por exemplo, a família, perdem espaço para a grande mídia, que por sua vez, reproduz entretenimento barato e vazio, sortido de propagandas governistas financiadas com dinheiro público, cria-se, aí um ciclo muito interessante aos detentores do poder.
Neste momento, sentimo-nos marginais.
Porém, nossa arte valoriza o contrário ao conformismo: provocamos nossos espectadores a se incomodarem, questionarem valores, desgostarem do que lhes é apresentado principalmente.
O repúdio ao nosso trabalho é muito bem vindo, pois sabemos que trata-se de um recorte desagradável da realidade, cujos esforços governistas a fim de ocultá-lo são caros e belos como telenovelas globais e propagandas de “nossa” petrolífera “estatal”.

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